Semana Inclusiva SC termina com a leitura de uma carta aberta à população

O empregômetro a ser lançado no site da SISC marcará a primeira ação dos organizadores pós evento


Florianópolis - A sétima edição da Semana Inclusiva Santa Catarina 2021, encerrou na quinta-feira (23) com a leitura de uma Carta  Aberta à Sociedade Catarinense, assinada pelo Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina, Superintendência Regional do Trabalho de Santa Catarina, vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência, UNOPS - a Agência das Nações Unidas Especializada em Gestão de Projetos, Infraestrutura e Compras, e outras 58 entidades governamentais e não governamentais que fazem parte da organização do evento. O documento conclama órgãos e cidadãos em geral a abraçar a diversidade e divulgar ações e instituições que trabalhem com a inclusão o estado alcançar o cumprimento da Lei de Cotas e contemplar o acordo da Agenda 2030 de não deixarmos ninguém para trás. A carta considera o universo das mais de 200.000 pessoas com deficiência do estado como possíveis candidatas a uma das 19.275 cotas ainda não preenchidas pelas empresas catarinenses. Pelo segundo ano consecutivo a SISC foi totalmente online, com transmissão ao vivo pelo canal oficial do YouTube da Semana Inclusiva e do Instituto Gentes, nos dias 21, 22 e 23 de setembro. Os três dias do evento, mediados pela jornalista Laine Valgas, contou simultaneamente com legendas, audiodescrição e tradução para Libras, em um esforço para tornar o evento o mais acessível possível.

Dia 21 – Feirão de Empregos
O Dia D, também conhecido como o Feirão de Empregos, foi o destaque do primeiro dia, na abertura oficial do evento. Criado para promover conexões entre empregadores, pessoas com deficiência e reabilitados do INSS, o Feirão possibilita o preenchimento de vagas das mais de 19 mil disponíveis no estado para os candidatos em cargos de cotas.

Na solenidade de abertura, um vídeo homenageou personalidades importantes, diretamente ligadas à Semana Inclusive, que partiram deixando um grande legado para a causa da inclusão: o Fiscal do Trabalho Alberto de Sousa que este ano  seria o coordenador da SISC, José Roberto Leal, o Zezinho - que por anos presidiu a AFLODEF, e o Procurador  Orivaldo Vieira, um dos convidados da 6ª edição da Semana Inclusiva. Em seguida, o artista e pesquisador Robson Benta, interpretou os sonetos do escritor catarinense Cruz e Sousa, filho de escravos alforriados e autor de obras como Evocações e Broquéis.

O Procurador do Trabalho Piero Menegazzi, gerente nacional do projeto "Acessibilidade e Inclusão no Mercado de Trabalho de Pessoas com Deficiência e Reabilitadas" do Ministério Público do Trabalho e representante da Coordigualdade MPT-SC e um dos coordenadores da SISC, abriu as falas institucionais. Piero ressaltou que a finalidade maior do evento é o cumprimento da Lei de Cotas que prevê a contratação de pessoas com deficiência por empresas com mais de 100 funcionários. "Tratamos aqui de direitos, não de favores ou benefícios, no intuito de sempre buscar o mesmo patamar de dignidade e civilidade, com o direito de não ser discriminado em razão da sua deficiência", disse ele.

Em seguida, foi transmitido um compilado com histórias de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Os vídeos abordaram preconceito, adaptação do ambiente de trabalho e realização profissional, como o caso da Silvia, que após cinco anos de procura, conseguiu uma oportunidade de emprego, em Joinville.


Um bate-papo entre Marinalva Cruz, da Turma do Jiló, e Thaís Tavares Pompêo, representante da Ímpar Inclusão, esclareceu questões sobre acessibilidade e interseccionalidade como fatores importantes na distribuição e preenchimento das vagas de emprego.  Marinalva alertou sobre a importância da inclusão de pessoas com deficiência para além de cargos inferiores, um problema, segundo ela, comum neste âmbito, lembrando que pessoas com deficiência são capazes de exercerem as mais diversas funções. "As empresas costumam olhar para as deficiências, não para os talentos e capacidades de cada um", lembrou Thaís.

O dia 21 terminou com o lançamento do Empregômetro pela Auditora Fiscal do Trabalho Luciana Sansa Xavier de Carvalho, coordenadora da Semana Inclusiva pela Superintendência Regional do Trabalho de Santa Catarina. A ferramenta, ainda em processo de produção, vai acompanhar os dados de empresas e de pessoas com deficiência empregadas no estado.  As informações serão atualizadas mensalmente no site oficial da SISC e vão sinalizar a real situação do cumprimento da Lei de Cotas em Santa Catarina.

Dia 22 – Seminários
O segundo dia do evento foi organizado para aprofundar a discussão sobre mercado de trabalho e pessoas com deficiência, abordando temas como a legislação nacional, comunicação e tecnologia. Especialista convidados participaram de seminários e rodas de conversa.

A médica e auditora fiscal do Ministério do Trabalho Lailah Vilela e o representante do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Joinville, Paulo Suldovski falaram sobre os parâmetros utilizados hoje em dia para caracterizar o que é deficiência, com base na Lei Brasileira de Inclusão.

Na sequência o Procurador do Trabalho Piero Menegazzi e o Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Ceará, Hugo Porto, que foi conselheiro titular no Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CONADE), conversaram sobre os Conselhos de Defesa de Direitos e Participação Social.  Os conselhos são espaços democráticos previstos na Constituição, formulados para possibilitar a participação ativa de entidades e segmentos da sociedade civil na construção de direitos. Para o Dr. Hugo, o CONADE, extinto com o fim dos mandatos em abril de 2021, "é a forma correta de dar efetividade à norma constitucional sobre abrir espaço para o debate igualitário da sociedade civil com os entes governamentais". Assim, o CONADE possibilita que a própria população com deficiência e entidades especializadas atuem no desenvolvimento dos seus direitos.  “A luta do CONADE é pela efetivação da lei brasileira de inclusão”, explicou.

A  mesa redonda intitulada “ Influenciar pessoas: comunicação e tecnologias a favor da inclusão” foi mediada pelo criador do projeto Histórias de Cego, Marcos Lima - maior youtuber cego brasileiro, com 315 mil inscritos e mais de 12 milhões de visualizaçõe,"O preconceito é combatido com informação" enfatizou Marcos ao dar início às falas. Nascido no Rio de Janeiro, ele contou suas experiências lidando com a acessibilidade e preconceito no país. "Minha deficiência não me define como pessoa, me explica em alguns aspectos, mas é por conta da falta de acessibilidade e do preconceito”, lamentou ele.



A jornalista Viviane Bevilacqua e a psicóloga Adriana Brascher, autora e personagem, respectivamente, do livro Dia Após Dia, lançado recentemente sobre a história da catarinense que ficou tetraplégica após um acidente de trânsito dividiram  com o público a experiência de colocar em uma obra a rotina da psicóloga nesta transformação de vida. Adriana contou dos desafios, lutas e as dificuldades enfrentadas nos últimos anos, principalmente pela falta de acessibilidade. O acidente que exigiu da Adriana novas formas de locomoção e mobilidade para os afazeres diários, se confunde com a história do  empreendedor  Bruno Mahfuz, criador do Guiaderodas, um aplicativo de registro e avaliação de locais acessíveis para deficientes físicos em vários lugares do mundo. Ele também ficou paraplégio após um acidente automobilístico em 2001, e participou da roda de conversa. "Depois do acidente, pude entrar em contato com uma realidade que não conhecia, que era a falta de acessibilidade", relata. O ponto de partida para seu projeto foi dado a partir da sua relação com a cadeira de rodas. "Ela é tão minha amiga, me leva para todos os lugares, por que ela me impõe tantos desafios?", ele brincou. A plataforma surgiu como um projeto colaborativo e hoje é o maior aplicativo de acessibilidade do Brasil.

A última fala do dia foi do jornalista e cineasta Chico Faganello, sócio diretor da Filmes Que Voam, empresa pioneira no Brasil na prestação de serviços de acessibilidade para a indústria audiovisual e no ensino de acessibilidade. Com anos de estrada na área, afirmou ser impossível falar em acessibilidade se as redes, veículos, plataformas, e todas as ferramentas de comunicação da atualidade não investirem em libras, audiodescrição e legendas em suas divulgações. “Temos o dever de comunicar tudo para todos e o processo desta mudança cultural deve começar já na educação'', concluiu.

Dia 23 – Bem estar
O último dia de Semana Inclusiva aprofundou o esporte, a cultura e o lazer direcionados a de inclusão e socialização da pessoa com deficiência. Três rodas de conversa com foco nas novas linguagens e acessibilidade abordaram a importância do sensível e do afetivo, do artístico e do poético nos processos terapêuticos. Participaram atletas, artistas e profissionais com deficiência para compartilhar suas experiências. As conversas foram mediadas pelo analista cultural da Fundação Catarinense de Cultura, Luiz Mesquita, professor responsável pelas oficinas de Cultura e Linguagem e coordenador do projeto Manjericão, Linguagem, Diversidade e Integrações, projeto oriundo da SISC 2018.  

Foram vários relatos emocionantes. Marcilene Ghisi, professora da Associação Catarinense para Integração do Cego, foi a primeira a participar dos debates. Com mais de 30 anos dedicados às pessoas com deficiência, ela falou do Projeto Multileituras da ACIC, iniciado há três anos com o objetivo de, por meio da poesia, música, livros, dentre outras artes, multiplicar e aumentar a percepção das paisagens dos cegos. “Foi pensado para levar as pessoas o nosso olhar e trazer para nós o olhar dos outros… unir, fazer ponte para tornar o caminho mais interessante e transformador”, explicou.

Celso Berto perdeu a voz devido a um tumor maligno na laringe e a cirurgia de retirada do todo o órgão. "Quando acordei depois da cirurgia, não falava mais", contou ele, utilizando uma prótese na altura do pescoço. Celso precisou aprender a falar novamente e o processo foi facilitado por meio da música, graças à integração e apoio do grupo Manjericão.

"A inclusão real é permitir fazer a pessoa com deficiência fazer o que ela quiser, ao contrário do que nós achamos que ela quer", resumiu Rolênia Almeida, pedagoga e mentora familiar voluntária na Associação de Paradesporto de Blumenau, com foco na educação inclusiva. Rolênia também é mãe de um adolescente com deficiência e relatou um pouco da experiência sobre o processo de maternidade inclusiva: "É uma construção, estamos construindo muitas coisas, incluindo uma nova história".

Representando o Centro de Reabilitação Profissional de Capinzal, o único centro da cidade e dos municípios vizinhos, a psicóloga Naiara Mascarelo, portadora da doença osteogênese imperfeita, caracterizada principalmente pela hiper fragilidade dos ossos, fez um relato do  grupo de apoio psicológico que ela participa para ajudar o retorno ao trabalho de pessoas com deficiência. “As pessoas são muito além de suas limitações”, disse ela. O trabalho no Centro é o primeiro da psicóloga que, com a voz embargada e lágrimas nos olhos, resumiu o que representa essa função para sua vida: "Eu gosto de ser independente, de fazer as coisas sozinha e ser útil."

Na temática esportiva, Francielle dos Santos, bacharel em direito que trabalha na diretoria jurídica da FIESC, abriu os debates com um vídeo onde aparece fazendo pilates e depois surfando nas águas de Florianópolis. Francielle teve parte das pernas amputadas ainda quando criança. Declarou que as atividades físicas deram confiança a ela. “O esporte não tem limites, me ensinou a ser mais forte, segura e desenvolta”.  

Fernando Fioresi, professor de jiu-jitsu e dono de uma academia habilitada para receber atletas com deficiência em parceria com a Associação Catarinense de Apoio ao Cego (ACIC) falou em seguida. "Através do jiu jitsu, eu posso influenciar positivamente na vida das pessoas" O projeto iniciou as atividades voltadas aos deficientes físicos e hoje é direcionado também às pessoas com deficiências intelectuais.

Na sequência, Jucileni da Paixão Moraes Homem, presidente da Associação Florianopolitana de Deficientes Físicos (Aflodef), contribuiu com o debate. Formada em Licenciatura em Educação Física e atleta de basquete em cadeira de rodas durante 22 anos, relatou que “o esporte, além de ser agregador, fortalece e nos inclui na sociedade de forma cidadã". O mesmo sentimento foi expressado pela blumenauense Andréia de Souza, bacharel em administração, analista administrativo, para-atleta da modalidade paranatação, vítima de uma paralisia cerebral. Ela encerrou a parte do esporte resumindo em uma única frase a sua trajetória de realizações: “Menor que meus sonhos, eu não posso ser”.

O artístico e o poético no processo de inclusão e socialização, contou com a presença da assessora de eventos da Associação Pais em Movimento, Pâmela Andrade, que tem síndrome de down e manifestou amor por tudo o que faz para comprovar sua carreira de sucesso, também, como bailarina, artista plástica, massoterapeuta e modelo.  Iraci Seefeldt, jornalista, produtora e coordenadora do programa Arte para Todos, vinculado ao Instituto de Pesquisa da Arte pelo Movimento de Joinville, deu detalhes do projeto que há cinco anos realiza oficinas de teatro para jovens com deficiência intelectual. "A gente aprende muito sobre verdades. O afeto só acontece no pessoal, com o convívio", ponderou. Em consonância, Maria Sirlei de Matos reforçou a importância do contato com outras realidades para atingir o afeto. Ela é coordenadora do Centro de Reabilitação Profissional de Capinzal e tem um projeto de dança com pessoas surdas criado a partir de um TCC.

O evento terminou com as palavras do Procurador do Trabalho Piero Rosa Menegazzi e da Auditora Fiscal do Trabalho Luciana Xavier Sans de Carvalho, agradecendo os palestrantes, instituições parceiras que ajudaram com ideias, sugestões de temas e convidados para a programação, equipe organizadora, empregadores, entidades formadoras dos profissionais com deficiência e dos candidatos a uma vaga que são a verdadeira razão de existência do evento e há sete anos vêm contribuindo para a evolução do cumprimento da Lei das Cotas no estado. Santa Catarina tem hoje 54,71 % das cotas preenchidas. Em 2014, um ano antes do Feirão de Empregos – o Dia D - que deu origem a Semana Inclusiva, era de 35,72% pelos dados da RAIS. O empregômetro irá permitir a todos os interessados acompanhar este crescimento nas contratações.

Todas as atividades desenvolvidas na SISC 2021 estão disponíveis no canal do YouTube da Semana Inclusiva.

Fonte: Assessoria de Comunicação MPT-SC

Coordenação: Fátima Reis

Estagiário: Erick Vinícius da Silva Souza

(48) 32519913/ 988355654/999612861

Publicado em 30/09/2021

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