Começa em Florianópolis debate internacional sobre assédio moral no trabalho

Florianópolis - O assédio no trabalho é apenas a ponta do iceberg e culpabilizar pessoas sem entender as causas não resolve a situação, afirmou Margarida Maria Silveira Barreto, presidente da Presidente do III Congreso Ibeoramericano sobre Acoso Laboral e Institucional e do IV Seminário Catarinense de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalho na conferência de abertura do evento, na noite da última quinta-feira. Até o domingo, dia 11, a UFSC sedia uma série de palestras, mesas redondas, vivências e outras atividades para analisar, compreender e combater o problema.

A cerimônia de abertura, no Centro de Cultura e Eventos, foi rápida: após um apresentação teatral no saguão, mostrando situações de assédio, foi formada a mesa no Auditório Garapuvu. Além de Margarida, a mesa era Antes da cerimônia, foi apresentada uma peça de teatro no saguão - Foto: Henrique Almeidacomposta pela Vice-Reitora Lúcia Pacheco, o presidente da Associação Latino-Americana de Juízes do Trabalho, Roberto Carlos Pompa, a presidente da Comissão de Saúde na Assembleia Legislativa, deputada estadual Ana Paula Lima, a procuradora regional do trabalho Adriane Reis de Araújo, o procurador do trabalho Acir Alfredo Hack, e a representante da Rede Iberoamericana pela Dignidade no Trabalho e nas Organizações, Florencia Peña Saint-Martin. Também foram convidados ao palco, em cadeiras próximas à mesa, representantes de diversas associações e sindicatos. Cada um deles fez uma fala rápida, dando boas vindas aos participantes e saudando a realização do evento na UFSC.

Ana Paula relembrou o setembro amarelo, de combate ao suicídio, e levantou, como provocação, a possibilidade dos números de pessoas que atentam contra a própria vida estar relacionado às pressões no trabalho. Roberto advogou a criação de um fórum de defesa contra a precarização do trabalho e o estabelecimento de novos modelos de relações laborais, com participação dos trabalhadores na condução da empresa. “As regras da democracia nas quais vivem nossos povos devem ser levadas às fábricas e às empresas. O assédio elimina os elementos estabelecidos pelo Estado de Direito”, afirmou. Florencia falou da necessidade de equilibrar teoria e ação. “Sou acadêmica, nós devemos continuar estudando. Mas há pessoas que estão sofrendo, tendo seu direitos deixados de lado; devemos pesquisar e agir”, disse.

Margarida Barreto apontou relações entre sistema econômico e pressões no trabalho

Margarida Barreto falou da necessidade de buscar as causas do assédio na cultura gerencial - Foto: Henrique AlmeidaDoris Acevedo, coordenadora da conferência de abertura, brincou antes de apresentar Margarida mais longamente: “é raro coordenar uma mesa com uma só pessoa, mas também é uma honra ter sido escolhida”. A palestrante, dedicou-se, então, a citar razões e meios que criam ambiente propício para a proliferação do assédio. “Temos uma cultura gerencial que define como princípio menores gastos e menores custos, com metas irrealizáveis. A capacidade de transformar tudo e todos em mercadoria não deixou de fora os trabalhadores”, falou. É preciso, explicou, submergir nas entranhas da relação entre capital e trabalho e encontrar suas contradições.

De acordo com Margarida, o resultado é que há uma pressão generalizada no mundo do trabalho, mais intensamente do que no passado, o que ocasiona sentimento existencial de perda do lugar, o que leva o trabalhador a estranhar a empresa e sentir-se só, sem ter em quem confiar. O sistema de dominação estimula permanente a co-dependência, em que cada gestor repassa a pressão sofrida e entra em situação de obediência irrestrita, fomentada pelo sistema financeiro apontou. Cria-se assim uma “liberdade coerciva em nome da maximização de resultados”, resumiu.

Média em Santa Catarina é de 20 casos por mês

O objetivo do III Congreso Iberoamericano sobre Acoso Laboral e Institucional e o IV Seminário Catarinense de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalhoé promover o encontro de diversas culturas (Espanha, México, Cuba, Venezuela, Porto Rico, Uruguai, Chile, Argentina e Brasil), com a oportunidade de trocar e experiências a respeito o tema. Entre os participantes, estão presentes profissionais e estudantes de várias áreas do conhecimento: medicina, psicologia, direito, administração, engenharia, entre outras.
Apenas em Santa Catarina, o Ministério Público do Trabalho registrou de 1º de janeiro de 2013 a agosto de 2015, 613 denúncias relacionadas ao tema. Foram 204 procedimentos instaurados em 2013, 216 em 2014 e 193 somente nos oito primeiros meses de 2015, demonstrando um elevado acréscimo dos números. Uma média de 20 casos por mês.

 

Autoridades na mesa de abertura do Iberoamericano
Autoridades na mesa de abertura do Iberoamericano

 

Fonte: Assessoria de Comunicação Social MPT-SC

(48) 32519913 / (48) 88038833

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Publicado em 09/10/2015

 

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