Resgate de 24 venezuelanos em condição análoga à escravidão em Rio do Sul

Acordo com MPT soma mais de R$ 450 mil em multas e indenizações

Florianópolis - Uma operação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) está finalizando o resgate 24 trabalhadores venezuelanos encontrados em condições análogas à escravidão numa fábrica de madeira de MDF, localizada no interior de Rio do Sul/SC. Participam do resgate o Ministério Público do Trabalho (MPT-SC), a Defensoria Pública da União (DPU), a fiscalização do Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF). No grupo havia crianças e dois bebês gêmeos com menos de uma semana, chegando a 39 o número de pessoas localizadas na propriedade.

Força-tarefa: MPT, DPU, PRF e MTP
Força-tarefa: MPT, DPU, PRF e MTP

Os venezuelanos interiorizados no Brasil pela Operação Acolhida do Governo Federal, moravam em Chapecó e Itapiranga, no Oeste do Estado. Eles contam que foram atraídos para o novo emprego com promessa de salário de até R$ 3.000,000 (três mil) por mês, moradia e alimentação fornecidas pela empresa. O anúncio, segundo eles, foi publicado em rede social numa página direcionada exclusivamente para venezuelanos refugiados no Brasil. Venderam bens pessoais, como televisão, cama, guarda-roupa, geladeira, fogão e sofá, e aceitaram o emprego no Alto Vale do Itajaí aonde chegaram com transporte contratado pelo empregador, foram colocados em quartos improvisados enquanto construíam seus próprios alojamentos.

Alojamentos construídos pelos venezuelanos
Alojamentos construídos pelos venezuelanos


Na abordagem a força-tarefa identificou as condições degradantes de trabalho, o que caracteriza o trabalho escravo contemporâneo no Brasil. Além da precariedade dos abrigos, trabalhavam na informalidade, sem carteira assinada ou qualquer outro direito trabalhista assegurado.

Em cômodos improvisados como quartos, sem camas e banheiro, os trabalhadores foram instalados enquanto construíam os alojamentos subdimensionados, com apenas um quarto e duas camas para cada família, feito com paredes de madeira, chão de concreto e telhado de zinco. Não havia cozinha, fogão ou geladeira. Seis banheiros funcionavam precariamente para o uso coletivo. Um tambor foi improvisado para armazenar água utilizada para banho, descarga nos banheiros, higiene pessoal, preparo de alimentos, para lavar louças e roupas. A comida era feita em um fogareiro construído pelo grupo e a fiação elétrica precária, gerando alto risco de incêndio.

Banheiro coletivo
Banheiro coletivo


Na CNMS (Brasil) Comércio de Madeiras Ltda., instalada no mesmo terreno onde os venezuelanos foram resgatados, houve a interdição dos maquinários que funcionavam sem as medidas de segurança de operação determinada pela legislação brasileira. De acordo com o MPT também não havia alvará de funcionamento e nem habite-se do corpo de bombeiro, além dos galpões apresentarem péssimas condições com ameaça de desabamento.
A força-tarefa determinou a retirada e o abrigamento, alimentação e hidratação de todos os trabalhadores e suas famílias, imediatamente, ou seja, no resgate, devendo ser mantida essa condição até a próxima sexta-feira (17). Eles foram retirados do alojamento e levados para hotéis em Rio do Sul.

Telhado da fábrica
Telhado da fábrica

A obrigação foi assumida no termo de ajuste de conduta (TAC) firmado pelo empregador com o Ministério Público do Trabalho. O acordo prevê ainda o pagamento de dano moral individual de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) para os trabalhadores que chegaram na fábrica no dia 03 de fevereiro e de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para os demais, que estão na propriedade desde janeiro, somando R$ 100.000,00 (cem mil reais), além R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) de dano moral coletivo e aproximadamente R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil) de verbas rescisórias. Cada trabalhador terá direito a três parcelas do seguro-desemprego especial, no valor de um salário-mínimo cada.

Os contratos de trabalho foram rescindidos na quinta-feira (09).A assistência social do município de Rio do Sul está auxiliando as vítimas na procura de moradia para os trabalhadores que optaram por continuar na cidade e os demais devem retornar para o Oeste Catarinense.

Fonte: Assessoria de Comunicação MPT-SC

(48) 32519913/ 98835-5654/ 99961-2861

Publicado em 10/02/2023

 

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